Munida de fé, vocação e conhecimento,  delegada é destaque numa profissão predominantemente masculina
Por Cinthia Yumi/ Fotos: Mundo OK
No prédio do Denarc – Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos, no Bom Retiro,  em São Paulo, o tom frio das paredes rústicas e o ambiente predominantemente masculino são quebrados  pela presença da delegada  Elisabeth Massuno, 53 anos.
A nissei natural de Apucarana, Paraná,  está no comando do combate às drogas há dois anos.  “A droga deixou de ser apenas uma questão de saúde se tornou uma verdadeira epidemia social. Para combatê-la, precisamos agir em diversas frentes: família, governo, educação, polícia…”, diz.
No Denarc, ela é ainda responsável pelo Museu das Drogas, com um acervo sobre os vários tipos de drogas lícitas e ilícitas e que pode ser visitado com agendamento  pelo email  emassuno@afpesp.org.br.
O oxi, a mais recente apreensão feita em São Paulo e que já se alastrou por todo o País, também já está em exposição no Museu. “Logo que a droga foi encaminhada para cá, pudemos retirar uma amostra para expor no museu. Agora, estão realizando estudos para saber quais são, de fato, os efeitos dessa droga no organismo humano. Mas, a considerar a sua composição,  é possível concluir que os efeitos tóxicos são maiores até do que o crack”, diz.
Além da importância do núcleo familiar e da vontade política, Elisabeth cita outro fator que ela considera primordial no combate às drogas: a espiritualidade. E foi nesse tom de total devoção a Deus, com a Bíblia sobre a mesa, dividindo espaço com livros, relatórios e outros trabalhos referentes às drogas, que a delegada concedeu esta entrevista à revistaMundo OK.
Mundo OK – A senhora tem 20 anos de profissão e já presenciou cenas pesadas da criminalidade… Por isso, achei que iria encontrar uma pessoa mais incrédula, em especial, quando o assunto é religião…
Dra. Elisabeth – Imagina. Eu sou cristã protestante. Acredito que sem a fé  seria impossível desenvolver essa carreira.  Sou religiosa desde pequena, por causa do meu avô, que era budista e se tornou cristão.
MOK – A senhora fala com muito carinho do seu avô. Poderia contar um pouco mais sobre ele?
Elisabeth – Ele é a melhor lembrança da minha infância. Era um pequeno comerciante na minha cidade natal, Apucarana (PR). Quando eu era criança, eu o acompanhava nas entregas de alimentos que ele fazia às pessoas carentes. Meu avô era muito solidário.
MOK – Então, essa vocação para ajudar a comunidade é de família?
Elisabeth – Em parte sim. Mas, decidi ser delegada quando minha família teve problemas com um estelionatário que nos vendeu um terreno. Naquele momento decidi que iria entrar para a polícia para prender os bandidos…
MOK – Como seus pais reagiram à sua decisão profissional?
Elisabeth – Meu pai não me apoiou. Mas, a família da minha mãe sim. Então, eu fui trabalhar como datilógrafa para pagar a faculdade de Direito. Prestei concurso público e consegui. Mas, é difícil impor respeito numa profissão que ainda é, predominantemente, masculina.
MOK – Imagino… a senhora é bem feminina… parece até frágil…
Elisabeth – É verdade. Apesar de andar armada, costumo dizer que minha maior arma é a caneta e o conhecimento!
MOK – O que é mais difícil nessa profissão?
Elisabeth- Ah… são os plantões porque quando chega um caso de flagrante, temos de elaborar a ocorrência… Indagar os acusados, as vítimas, as testemunhas… Não tem hora para sair da delegacia… Por causa dessa vida corrida, eu e meu marido optamos por não ter filhos.
MOK – A senhora já foi ameaçada de morte?
Elisabeth – Sim, foi há muito tempo, numa cidade do Noroeste paulista, num caso de quadrilhas que fraudavam bingo. Depois disso fui transferida para outra cidade, para um distrito da Zona Leste de São Paulo e, depois, para uma Delegacia de Defesa da Mulher, na zona Sul.
MOK – E nunca pensou em ter outra profissão?
Elisabeth – Não. Sou uma pessoa muito agitada e que não tolera injustiças com os menos favorecidos e tento ajudar as pessoas de imediato. Por isso, ser delegada de polícia me completou porque as pessoas que procuram o plantão policial precisam de auxílio naquele instante e não posso deixar para o dia seguinte.
MOK – O que a senhora acha da legalização da maconha?
Elisabeth – Acho lamentável que algumas pessoas defendam a legalização da maconha. Quem faz isso não sabe os malefícios que essa droga faz  para a saúde da grande maioria das pessoas que as usam. Sem falar no fato de a rede pública não estar preparada para atender todos os dependentes químicos.
MOK – Às vezes, a senhora não se sente numa luta em vão… já que a questão do combate às drogas envolve gente perigosa e poderosa?
Elisabeth – Com certeza é a religiosidade que me ajuda a encarar essa profissão e a exercê-la com toda a minha dedicação. Mas, temos de admitir que  falta vontade política de mudar… Imagine se desde que eu iniciei a minha carreira, há 20 anos, já houvesse uma matéria sobre o assunto na grade curricular das escolas?
Conheça o Denarc
O Denarc  surgiu em 1987, quando a estrutura básica da Polícia Civil de São Paulo passou por uma reestruturação.  A função do departamento é prestar serviços de prevenção e repressão aos crimes de tráfico ilícito de drogas. Na estrutura organizacional do Denarc há ainda o DIPE – Divisão de Prevenção e Educação, cuja atribuição é levar informações ao público  sobre a prevenção do uso de drogas e a disseminação do tráfico.  “Nas palestras falamos sobre o que é a droga; as consequências do uso; o tratamento; e a legislação sobre o assunto”, diz  dr. Reinaldo Corrêa, delegado de Polícia Divisionário do DIPE.
Na opinião dele, a penalidade para o usuário de droga ilícita deveria ser mais severa. “Acho que na primeira vez, o usuário deveria apenas ser advertido. Mas, na segunda vez, deveria haver uma pena restritiva de liberdade. Hoje,  essa penalidade se restringe a serviços comunitários e submissão a tratamento…”, completa.
Além das palestras sobre o assunto, o Denarc ainda conta com um departamento de assistência social direcionado a usuários de drogas e seus familiares. O atendimento é sigiloso e gratuito. Mais informações pelo telefone (0xx11) 3815-8761.   O endereço é Rua Rodolfo Miranda, 636, 1º. Andar, Bom Retiro, São Paulo.
Sinais de que seu filho pode estar usando drogas:
  • Comportamento retraído, deprimido, cansado;
  • Não cuida da própria aparência;
  • Apresenta comportamento hostil e pouco colaborativo dentro da família, afastando-se dos outros;
  • Notas escolares baixas e presença irregular na escola;
  • Perde o interesse por hobbies ou esportes;
  • Mudança nos horários de sono e nos hábitos alimentares;
  • O dinheiro da casa começa a desaparecer
Fonte: Guia Crescendo sem Drogas, da Associação Parceira Contra a droga (APCD)